O Centro de Cultura Católica (CCC) promoveu no sábado, 28 de outubro de 2023, a sessão solene de início do ano letivo, sob a presidência de D. Manuel Linda, bispo do Porto. Com esta sessão se iniciou também a comemoração do cinquentenário do Curso Diocesano de Música Litúrgica. Compareceram vários professores e alunos, entre os quais os que concluíram os seus cursos no último ano letivo e receberam os seus diplomas. Juntaram-se-lhes familiares, amigos, antigos alunos, designadamente do Curso de Música Litúrgica.
Após a interpretação de «Veni Creator Spiritus» pelos alunos do Curso de Música Litúrgica, dirigidos pelo professor Emanuel Pacheco, o P. Adélio Abreu, diretor do CCC, saudou os presentes, enquadrou a sessão e o ano letivo no âmbito do lema «Para uma Igreja pluriministerial», no seguimento do documento da Conferência Episcopal Portuguesa «Ministérios laicais para uma Igreja ministerial» e da nota pastoral do bispo do Porto «Ministérios instituídos na Igreja do Porto», pela qual D. Manuel Linda convida «a Igreja diocesana a dar um passo determinado na implementação efetiva dos ministérios laicais instituídos de leitores, acólitos e catequistas» e indica como conveniente formação «os programas da Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos e do Curso Básico de Teologia do nosso Centro de Cultura Católica», em articulação «com o Secretariado Diocesano da Educação Cristã (para a Instituição de Catequistas) e com o Secretariado Diocesano de Liturgia (para os ministérios do Leitorado e do Acolitado)».
Apresentou ainda a situação atual do CCC, que no ano que começa conta com 79 alunos, distribuídos pelos diferentes cursos: Básico de Teologia – 39 alunos; Complementar de Formação de Catequistas – 1; Acólitos – 8; Leitores – 6; Música Litúrgica (Preparatório, Geral e Salmistas) – 25. Identificou uma ligeira subida no número total de alunos, se bem que não resultando da correspondência à abertura diocesana da formação para os ministérios instituídos, nem porventura da transferência da lecionação de metade do Curso Básico de Teologia para sala virtual, em resposta ao repto diocesano.
O diretor do CCC referiu-se ainda à abertura das comemorações do cinquentenário do Curso de Música Litúrgica, que integrarão também um concerto de órgão com a participação de antigos alunos e uma celebração na Sé a 14 de abril de 2024. A propósito do cinquentenário, teve oportunidade a citar a circular de 20 de outubro de 1971 que anunciava que «o Centro de Cultura Católica, do Porto, vai integrar nas suas atividades um Curso de Formação Musical, destinado à preparação de animadores paroquiais de música litúrgica, sob a orientação da Equipa responsável pela música litúrgica na diocese» e recordar o primeiro corpo docente, encabeçado pelo P. António Ferreira dos Santos, bem como os 49 alunos que nesse ano frequentaram o Curso. Justificou também o atraso da comemoração, em razão da pandemia.
Seguiu-se uma evocação do Curso no seu cinquentenário, realizada pelo P. Agostinho Pedroso, que esteve na fundação do Curso e tem sido seu professor ininterruptamente até ao presente, e pelo Cón. João da Silva Peixoto, diretor do Secretariado Diocesano de Liturgia, que o acompanha desde longa data, designadamente no contexto da sua integração na Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos, em 1989. O P. Pedroso situou o início do Curso no contexto religioso e litúrgico pós-conciliar, bem como no contexto social e musical da cidade do Porto, evidenciando a crise litúrgica da época, bem como o ambiente culturalmente “provinciano” do Porto, designadamente no que à música respeitava. Inseriu o aparecimento do Curso no movimento de renovação da música litúrgica na diocese no início da década de 70, liderado pelo P. Ferreira dos Santos, que ao Curso juntou a publicação do «Boletim de Música Litúrgica», com novas composições em português, e a fundação do Coro da Sé do Porto, ligado à catedral e destinado a promover o património coral sacro.
Depois de evocar a primeira equipa de padres comprometida no processo e referir algum funcionamento informal de aulas prévio à fundação do Curso, o P. Pedroso fixou-se nesta fundação, ocorrida no contexto do Centro de Cultura Católica, mencionando sobretudo as razões que a ela presidiram: a competência ministerial atribuída ao leigo pela teologia conciliar; a multiplicidade de problemas que a reforma litúrgica levantou; a falta de preparação litúrgica da maior parte das comunidades; a necessidade de confrontar as expressões da fé e celebração do culto com as dificuldades sociológicas do tempo. Aludiu ainda ao projeto do Curso que juntava a formação técnica à formação litúrgica, humana e espiritual, no contexto do entusiasmo de todos e de cada um pelo canto e pela música na liturgia. Conclui a intervenção, defendendo que o projeto continua válido, sendo necessário incutir-lhe vida nova, designadamente através da ligação do Curso às paróquias, aos párocos e aos coros paroquiais.
O Cón. João Peixoto fixou-se na reformulação e integração do Curso na Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos em 1989, que alargou a formação aos leitores e acólitos. A partir da ministerialidade à volta da música, começou a articular-se a ministerialidade à volta da Palavra e do serviço do altar, tal como diocesanamente do Serviço Diocesano de Música Litúrgica se fez caminho para o Secretariado de Liturgia. A Escola, criada no contexto do CCC, sairia no ano letivo seguinte das suas instalações, devido à falta de espaço, para funcionar durante dois anos nas instalações da Igreja da Lapa e sucessivamente no Seminário Maior do Porto. Em resultado da falta de disponibilidade do Seminário, regressaria em 2001/2002 ao CCC, depois de neste terem sido realizadas obras que permitiam acolher os vários cursos e disciplinas da Escola. Depois de evidenciar o significado da Casa da Torre da Marca no quadro da formação laical e litúrgica da diocese, apontou o ideário da Escola, delineado em reunião de professores de maio de 1999: formar leigos e religiosos para o exercício competente dos ministérios litúrgicos; formar animadores locais que tenham competência para formar outros leigos; ministrar aquela preparação que venha ser exigida para a futura instituição de ministérios laicais na diocese. Este ideário sintoniza com a nova etapa na ministerialidade da Igreja inaugurada diocesanamente pela nota pastoral do Bispo do Porto de maio passado, alusiva aos ministérios instituídos. Citando-a, o Cón. João Peixoto teve oportunidade de referir: «Antevejo que cada paróquia ou igreja/reitoria, no futuro, venha a ter um(a) acólito(a), um(a) leitor(a) e um(a) catequista devidamente instituídos. Esse número poderá crescer nas comunidades mais populosas ou pluricêntricas à medida que se for consolidando esta reconfiguração ministerial. Respeitando a lei da gradualidade, poderá começar-se a nível vicarial, por aqueles que já vão desempenhando tarefas de coordenação e são referência reconhecida nas respetivas áreas». Concluiu com a referência à importância da passagem de uma Igreja monoministerial a uma Igreja pluriministerial, com passos dados por convicção e não deixando apenas que se imponha a inevitabilidade histórica.
Concluída a evocação, D. Manuel Linda entregou os diplomas aos alunos que terminaram os seus cursos. Em 2022/2023, concluíram a sua formação quatro alunos do Curso Básico de Teologia, um do Curso de Leitores e cinco do Curso Geral de Música Litúrgica. São oriundos de diversas comunidades: Valbom e Foz do Sousa (Gondomar); São Mamede de Infesta (Matosinhos); Corim (Maia); Ul (Oliveira de Azeméis); Tougues (Vila do Conde); Ramalde (Porto); Gulpilhares (Vila Nova de Gaia); Resende; Missionárias Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus.
D. Manuel Linda fez então uso da palavra para saudar todos os que ajudaram a que a diocese do Porto seja uma referência na liturgia e noutros âmbitos. Sublinhou depois o significado do CCC para a diocese do Porto e também para outras Igrejas diocesanas, bem como como a qualidade dos cursos, visível na música, mas também em outros setores. Informou que a maior insistência que lhe chegou dos organismos diocesanos de corresponsabilidade, no seguimento da pandemia, foi a da necessidade de formação, que levou ao seu repensar, na articulação do CCC com os Secretariados da Educação Cristã e de Liturgia, e aos passos dados em ordem aos ministérios instituídos. Diante da constatação de que a diocese não respondeu imediatamente na procura ao repto antes manifestado, perguntou-se se não haverá algum equívoco a fazer convergir o pedido de formação para os outros e não na primeira pessoa. Por fim, evidenciou a necessidade de formação para que o crente possa apresentar ao mundo as razões amadurecidas da sua fé e desafiou o CCC a ser «“incubadora” de novas formas de presença da Igreja no mundo», designadamente no domínio da linguagem para comunicar a fé, do diálogo e da reflexão sobre as formas de pobreza. O CCC acolheu o repto com muito interesse, num quadro de compromisso e concertação com os organismos diocesanos que tutelam essas áreas, como vem ocorrendo no domínio da liturgia e da educação da fé. Algumas das conferências previstas no ciclo do presente ano letivo versam precisamente sobre estas temáticas.
A sessão foi encerrada com algumas intervenções dos alunos do Curso de Música Litúrgica. Joaquim Moreira e João Martino, que concluíram o Curso de Música Litúrgica, interpretaram ao órgão respetivamente o 3º andamento da Sonata n. 2 de Mendelssohn e o Prelúdio em sol maior (BWV 541) de Bach. O coro interpretou «Eu sei em quem pus a minha confiança» de A. Cartageno. Seguiu-se um breve convívio organizado pelos alunos que concluíram o Curso de Música Litúrgica. Assim se iniciaram solene e festivamente as atividades do CCC no ano 2023/2024, evocando o Curso de Música Litúrgica no seu cinquentenário.