Ministérios numa Igreja sinodal

Decorreu na noite de 9 de janeiro de 2024 a quarta sessão do ciclo «Vamos com alegria: Juntos por um caminho novo», organizado pelo Centro de Cultura Católica e pelo diaconado permanente portucalense, com a colaboração com alguns Secretariados diocesanos. A sessão desta noite foi preenchida pela conferência «Ministérios numa Igreja sinodal», proferida por João da Silva Peixoto, diretor do Secretariado Diocesano da Liturgia e reitor da Igreja dos Congregados.

A sessão, realizada por videoconferência e muito participada, atendendo aos 107 dispositivos informáticos ligados, procurou corresponder aos desafios do Plano Diocesano de Pastoral, designadamente quando menciona entre os objetivos pastorais: «Redescobrir as exigências da vocação universal à participação responsável, valorizando os carismas e ministérios que o Espírito Santo não cessa jamais de conceder para a construção da Igreja».

Depois enunciar que se ia ater sobretudo aos ministérios instituídos, o conferencista apresentou a viragem eclesiológica proporcionada pelo II Concílio do Vaticano, que realizou uma conversão na forma de a Igreja se entender. Em vez de uma sociedade desigual, um mistério de comunhão. Em vez de uma pirâmide com a Igreja discente, submissa, na base e, por cima dela, o clero em camadas sucessivas de ordens menores e maiores até ao vértice, um grande círculo em que todos os batizados se dão fraternalmente as mãos como fiéis de Cristo, numa plataforma comum em que há distinção, mas não separação ou sobreposição de ordens, ministérios e serviços.

A conferência apontou sucessivamente o sentido da palavra “ministério”. O ministro é o “minor”, o menor. Contudo, se na visão juridista do passado o pressuposto para os ministérios era a pertença ao clero, a linguagem foi evoluindo até ao Concílio, que ensinou que os leigos exercem um verdadeiro ministério. Com a reforma de Paulo VI, os ministérios e ordens descentraram-se, deixando de ser funções subalternas e transitórias de preparação para a ordenação sacerdotal. Paulo VI, em 1972, desclericalizou as ordens menores. O ingresso no clero dá-se com a ordenação diaconal. As ordens menores passaram a chamar-se ministérios, e o rito de investidura é designado instituição. Os ministérios instituídos não nascem do sacramento da ordem, mas do batismo e da confirmação.

Contudo, se no que respeita ao sacramento da ordem, se restaurou o diaconado permanente, abrindo-se a porta a um novo tipo de clero, a reforma, no que respeita aos ministérios instituídos, ficou num certo impasse, justificado pela exclusão canónica das mulheres. Será o “motu proprio” «Spiritus Domini» (2021) de Francisco a pôr termo a essa exclusão, permitindo que os ministérios instituídos voltem à agenda das Igrejas particulares. Se a reforma de Paulo VI tinha procedido à desclericalização dos ministérios no plano dos princípios, Francisco, vencendo as forças da inércia, desclericalizou-os de facto, devolvendo-os ao exercício dos batizados e crismados. São várias as consequências do documento papal: um passo na receção do Concílio; a libertação dos ministérios laicais da subordinação clerical e a sua devolução à pastoral da Igreja; o renovado enquadramento da preparação dos padres ao lado dos ministérios laicais; o reconhecimento canónico da igualdade entre homens e mulheres; a ampliação dos ministérios no feminino a partir da base.

A conferência incidiu em seguida no documento da Conferência Episcopal Portuguesa «Ministérios laicais para uma Igreja ministerial» (2022), pelo qual os bispos portugueses acertaram o passo com a agenda pastoral do papa Francisco no que respeita aos ministérios instituídos de acólito, leitor e catequista, este último entretanto criado por iniciativa pontifícia. Depois de apontar as caraterísticas destes ministérios, bem como a sua implementação gradual, João da Silva Peixoto ainda se deteve sumariamente na nota pastoral de D. Manuel Linda «Ministérios instituídos na Igreja do Porto», relativa à implementação efetiva dos referidos ministérios laicais instituídos na diocese, apontando o seu enquadramento, as instâncias da sua formação e o seu contributo para uma progressiva reformulação pastoral, de modo que as comunidades cristãs sejam cada vez mais células vivas de uma Igreja viva, a crescer na comunhão corresponsável de todos os fiéis, de forma desclericalizada e sinodal. Pretende-se uma Igreja estruturalmente ministerial, num grande círculo que supere a antiga visão piramidal, com o povo de Deus no horizonte mais amplo, seguindo-se internamente os ministérios de facto consoante as necessidades, num círculo mais restrito os ministérios instituídos, e finalmente os ministérios ordenados.

Após a apresentação do tema, a sessão foi enriquecida pelo diálogo e a partilha entre os presentes e a conferencista.

A próxima sessão, a realizar também por videoconferência, está agendada para 6 de fevereiro de 2024, às 21 horas. José Nuno Silva aborda o tema «Escutar, o Verbo do cuidar».

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