A 14 de abril de 2024, na Sé do Porto, D. Manuel Linda, Bispo do Porto, presidiu à Eucaristia de ação de graças, por ocasião do Cinquentenário do Curso de Música Litúrgica, lecionado no Centro de Cultura Católica (CCC). Foi o terceiro momento celebrativo programado para o presente ano pastoral, depois da sessão evocativa de outubro, e do concerto de órgão, proporcionado por antigos alunos, no início de fevereiro.
A celebração congregou professores e alunos do presente e do passado, bem como alunos de outros Cursos do CCC, designadamente da Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos. Os cânticos estiveram a cargo do Coro do Curso, a que se juntaram alguns antigos alunos, dirigido pelo professor Emanuel Pacheco e acompanhado ao órgão pelo professor Tiago Ferreira. Também os acólitos e leitores, coordenados pelos professores José Campos, Manuela Oliveira e Henrique Ferreira, puderam exercer o seu ministério da celebração.
Na sua homilia, D. Manuel Linda, partindo do espanto dos discípulos no relato evangélico da aparição do Ressuscitado, que tinha sido proclamado, avançou para uma sugestiva reflexão sobre a «a música, como capacitação para a ascensão ao encontro do Deus que chega, como fusão mística de um sobrenatural glorioso que envolve a nossa pobre natureza caduca e muito limitada, como fomento de um estado de ânimo de libertação e deslumbramento».
No contexto da liturgia, a música «não existe primordialmente para tornar a celebração mais festiva e solene, para ocupar esteticamente alguns momentos dos nossos dias tão prosaicos, para atrair um público melómano e, assim, encher as igrejas». A música litúrgica, «pela sua própria natureza, já é liturgia, celebração, ação transformante, veículo para o contacto com o Mistério sempre assombroso, fascinante e encantador. Não se trata, portanto, de algo externo e apenso ao rito, mas potenciador do contacto que recria a realização e manifestação do Mistério da Salvação».
Referindo-se à qualidade da música ao serviço da liturgia e à necessária educação da sensibilidade dos fiéis, D. Manuel salientou «a importância da formação: quer daqueles que exercem o santo ministério da música na ação litúrgica, quer da assembleia orante, até para que esta não se limite à escolha do que mais “agrada”, num péssimo nivelamento por baixo. Especialmente, há que formar os jovens para que a música litúrgica se torne uma linguagem de forte comunicação com o Transcendente e mesmo com o irmão que com ele celebra o Mistério e não mais imaginem que as emoções só podem chegar pelo cançonetismo comercial».
A terminar a sua homilia, referiu-se expressamente ao Curso de Música Litúrgica: «Por aquilo que, ao longo destes cinquenta anos, o Curso de Música Litúrgica do nosso Centro de Cultura Católica tem feito, dou graças a Deus e um profundo agradecimento aos formadores, formados e formandos».
De facto, não faltam motivos para dar graças pelo Curso, desde que foi criado no ano letivo de 1971/1972, no contexto do movimento de renovação da música litúrgica na diocese, a partir daí empreendido sob a direção do P. Ferreira do Santos, bem como do mais amplo movimento de renovação eclesial, proporcionado pela receção do II Concílio do Vaticano.
No início da celebração, o P. Adélio Abreu, diretor do CCC, pôde evocar brevemente esse início e o percurso subsequente, dando razões para a gratidão. Citando um documento programático inicial, recordou que o Curso pretendia: conferir «competência ministerial atribuída ao leigo pela teologia conciliar»; fazer face à «multiplicidade de problemas que a reforma litúrgica proporcionada pelo Concílio levanta», responder «à falta de preparação da maior parte das comunidades no que respeita à montagem e ao significado duma celebração», «confrontar as expressões da Fé e Celebração do Culto com as dificuldades psico-sociológicas dos homens de hoje».
Depois de uma 1ª etapa coordenada pelo Serviço Diocesano de Música Litúrgica, o Curso, a partir de 1989, passou a enquadrar-se no conjunto da que viria a designar-se Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos, alargada aos acólitos, aos leitores e, após 1994, também aos salmistas, sob a responsabilidade do Secretariado Diocesano de Liturgia. Uma consulta ao arquivo do CCC, com algumas lacunas, permitiu ao diretor referir que terão passado pelo Curso, na sua 1ª fase, inscritos entre 1971 e 1984, pelo menos 361 alunos; e na sua, 2ª fase, inscritos entre 1989 e 2023, 725 alunos (529 no Curso Preparatório e Geral; 196 no Curso de Salmistas). Sem mencionar dados de conclusão, terão, pois, passado pelo Curso no total perto 1100 alunos. Não dizendo tudo, estes números permitem intuir os frutos que motivam a ação de graças e a súplica para que o Senhor continue a sustentar «o nosso percurso na formação técnica, litúrgica e espiritual de músicos competentes ao serviço da liturgia da nossa Igreja do Porto».