Decorreu, na noite de 7 de maio de 2024, a sexta sessão do ciclo «Vamos com alegria: Juntos por um caminho novo», organizado pelo Centro de Cultura Católica e pelo diaconado permanente portucalense. Constou da conferência «A cultura do cuidado nas organizações do sector social», proferida pelo P. Lino Maia, Presidente das Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social e Pároco de Aldoar.
A sessão, realizada por videoconferência e bem participada, atendendo aos 76 dispositivos informáticos ligados, procurou corresponder aos desafios do Plano Diocesano de Pastoral, designadamente quando menciona entre os objetivos pastorais a necessidade de «promover uma cultura do cuidado», acrescentando expressamente, no âmbito das ações pastorais, «as Instituições Particulares de Solidariedade Social», bem como «as Instituições sociais em campo».
O P. Lino Maia fundamentou inicialmente a ação sócio-caritatitiva do ponto de vista bíblico e no âmbito do magistério da Igreja, aludindo à parábola do Bom Samaritano e à sua interpretação por Bento XVI, quando, em 2010, em Fátima, se referiu a um «Igreja estalagem» em que as pessoas são tratadas dos seus males físicos e morais, para serem restituídas à Igreja. Procurou também distinguir caridade e ação social, remetendo esta para a ação organizada em favor das pessoas, assente na sua dignidade e no respeito pela vida.
A preleção enfrentou depois a problemática de a quem compete a ação social, designadamente ao Estado ou à Igreja. Percorrendo a tradição da Igreja neste âmbito, referiu que o Estado deve apoiar, mas não tem de ser ele a assumir a tarefa. O estado tem de garantir meios e ser supletivo relativamente às respostas sociais existentes. Defendeu também que, estando constitucionalmente garantidos os direitos à educação, à saúde e à segurança social, também deveria estar o direito à proteção social.
A conferência foi particularmente rica de dados quantitativos relativos às instituições da Igreja no âmbito da ação social, designadamente Misericórdias, Centros sociais paroquiais, Fundações de ereção canónica e Institutos de organização religiosa. Foram apresentados dados quanto às organizações sociais e respostas sociais da Igreja em Portugal, também da diocese do Porto, bem como ao número de pessoas apoiadas pelos vários tipos de respostas sociais.
Relativamente aos principais desafios, a conferência apontou, em primeiro lugar, o dos trabalhadores especializados e com formação, com o decorrente impacto na sustentabilidade das instituições. O orçamento destas atualmente provém em 38% das comparticipações do Estado, em 33% dos utentes de acordo com as suas capacidades financeiras, ficando 29% para preencher com outras receitas, designadamente oriundas das comunidades cristãs. O problema da sustentabilidade evidencia-se no facto de 50% das instituições terem resultados negativos. No Pacto de Cooperação para Solidariedade Social de 1996 previa-se que o apoio do Estado ascendesse a perto de 60% do orçamento das instituições e o de 2021 referia um compromisso de apoio do Estado de 50%.
Um outro desafio incide na liderança das instituições da Igreja, habitualmente confiadas, em contexto paroquial, aos párocos, que acrescentam às tarefas da sua missão pastoral obrigações de gestão que os ocupam e para que podem não estar diretamente vocacionados. Hoje, contudo, há abertura para outras soluções. O P. Lino Maia aventou a possibilidade de as confiar a diáconos, quando competentes para tal, atendendo ao facto de a ação social e caritativa convergir com pertinência para o serviço que lhes é específico.
Em jeito de conclusão, o conferencista procurou colocar em relação a caridade, o anúncio e o culto, tendo em conta que as atividades sociais são atividades desenvolvidas em nome de Cristo e que quem, por esta via, trata bem das pessoas não deixa de prestar culto a Deus. A ação social é uma forte instância de credibilidade da Igreja.
No termo da exposição, a reflexão prosseguiu, durante largos minutos, em diálogo subsequente a partir de algumas observações e perguntas deixadas pelos participantes.
O ciclo «Vamos com alegria: Juntos por um caminho novo» encerra a 4 de junho com a conferência «Comunicação social, mundo digital e evangelização», da responsabilidade do Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais.