Comunicação social, mundo digital e evangelização

Decorreu, na noite de 4 de junho de 2024, a última sessão do ciclo «Vamos com alegria: Juntos por um caminho novo», organizado pelo Centro de Cultura Católica e pelo Diaconado permanente portucalense, com a colaboração de alguns secretariados diocesanos. Constou da conferência «Comunicação social, mundo digital e evangelização», proferida pela jornalista Carmo Rodeia, assessora de Comunicação da Diocese de Angra.

A sessão, realizada por videoconferência e bem participada, atendendo aos mais de 60 dispositivos informáticos ligados, procurou corresponder aos desafios do Plano Diocesano de Pastoral, designadamente quando menciona entre as ações pastorais «valorizar criteriosamente a Pastoral Digital, tendo em conta as suas potencialidades e riscos, conforme as orientações do Dicastério para a Comunicação, no Documento intitulado “Rumo à presença plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais”, de 28 de maio de 2023».

No início da sessão tomou a palavra o Cón. Jorge Duarte, diretor Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais, que, tendo organizado a sessão, fez a sua abertura e apresentou a conferencista. A abordagem da temática ficou a cargo de Carmo Rodeia que, intervindo a partir da Ilha de São Jorge, nos Açores, se centrou particularmente no recurso às redes sociais em contexto de evangelização. Depois de aludir a diferentes perfis de utilização das redes – uns mais enérgicos, com grande intensidade de postagem e resposta, e outros mais episódicos, nomeadamente por dever de ofício – referiu o ambiente de polémica e de tensão que habitualmente pauta o domínio da comunicação social, também no modo de olhar para a Igreja. Pode assim afirmar que o ambiente nas redes sociais não é substancialmente diferente. Diferente é sobretudo a amplitude e a velocidade a que a informação circula. Das redes é típico um forte clima de polarização.

Considerou que as redes sociais são um lugar importante de evangelização, designadamente pelo facto de serem “lugares” onde as pessoas estão. Podem revelar-se “madrastas”, mas não precisam de ser diabolizadas. Essencial é conhecer estes novos espaços, para deles se poder fazer uso com proveito, nomeadamente tendo em conta alguns pilares dos evangelizadores digitais: a primazia do evangelho (o evangelizador digital recorre à linguagem simples e sedutora do evangelho; pense-se nas parábolas); a primazia da caridade (o evangelizador digital testemunha o amor salvífico de Cristo, mesmo se nas redes frequentemente prima o ódio); a primazia da graça (o evangelizador digital não é dono da verdade, é humilde, abre-se à graça e não confia apenas no seus talentos); a primazia da sinodalidade (o evangelizador digital revela uma permanente atitude de escuta; interpela e não impõe); a primazia da eclesialidade (o evangelizador digital é um com todos; não centra a comunicação em si).

A utilização das redes sociais também se reveste de riscos, designadamente pelo facto de a vida quotidiana do influencer se tornar conteúdo digital. A sua vida é moldada pela vida mediática, promovendo a autorreferencialidade. Na lógica das redes sociais, o influencer age em função da rede e não das exigências da evangelização, em função do que lhe pedem e não do que deve fazer. Para além disso, as plataformas digitais aproximam iguais e não diferentes favorecendo muitas vezes posições extremadas. A evangelização tem subjacente uma outra lógica: levar a Jesus e à conversão.

Evocando o documento de 2023 «Rumo à presença plena», do Dicastério para a Comunicação, Carmo Rodeia teve oportunidade de referir que a questão principal subjacente à evangelização digital é a autenticidade. Não basta dar ordens e é preciso evitar uma imagem fabricada do evangelizador. Aludiu também à questão da proximidade como valor no mundo digital: o “respirar” antes de reagir; a escuta do outro sem impor.

A conferência ainda aduziu outros elementos para o tema, designadamente a problemática dos algoritmos subjacentes à presença no digital, o conhecimento da especificidade de cada rede, designadamente se privilegiam a imagem, o texto, as frases curtas… Marcante foi a necessidade de que a palavra e a imagem falem de Deus e não do próprio, numa atitude de autenticidade, de coerência e de verdade.

No termo da exposição, a reflexão prosseguiu, durante alguns minutos, com as considerações de Carmo Rodeia em réplica às observações e perguntas deixadas pelos participantes.

O ciclo de 2023/2024 termina. Não, contudo, as iniciativas formativas do CCC, nos seus cursos e ciclos. Os cursos para 2024/2025 já se encontram divulgados em ccc.diocese-porto.pt. Outras iniciativas sê-lo-ão mais adiante. É com sentido de missão cumprida e com vontade de responder mais e melhor que o CCC acolhe as mensagens de gratidão e de estímulo que lhe vão chegando.

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