Na noite de 3 de junho de 2025, realizou-se por videoconferência a penúltima sessão do ciclo «Peregrinos de esperança», organizado pelo Centro de Cultura Católica e pelo diaconado permanente portucalense, em sintonia com o Plano Diocesano de Pastoral 2024/2025. Numa sessão muito participada, Adélio Fernando Abreu, diretor do CCC e professor da Faculdade de Teologia, abordou o tema «A memória de uma Igreja sinodal: No 17º centenário do I Concílio de Niceia».
O Concílio de Niceia de 325 é um acontecimento relevante, reconhecido tanto pelo cristianismo ocidental, como pelos Igrejas do oriente, também aquelas que se reviram no Concílio de Calcedónia. Nele foi definida uma profissão de fé trinitária, que, com os ajustes do I Concílio de Constantinopla, é reconhecida e usada pelas diferentes Igrejas cristãs. A conferência assinalou isto mesmo, ao abordar o concílio no seu contexto e na dinâmica sinodal da Igreja antiga, bem como a sua profissão de fé, destacando, num e noutro caso, o papel da receção conciliar. Por razões de delimitação, renunciou a tratar de outras questões nele consideradas, designadamente a data da celebração da Páscoa e os cânones disciplinares que nos legou.
No que respeita ao contexto, foi destacada a convocação do concílio no contexto do império romano reunificado sob Constantino e da liberdade religiosa proporcionada no seguimento do comumente designado édito de Milão. A aceitação do cristianismo decorria da perceção do seu serviço à coesão imperial, algo que era posto em causa pelas divergências teológicas em torno da questão trinitária.
No que respeita ao papel de Niceia na evolução da sinodalidade na Igreja antiga, a conferência, afirmando que a sinodalidade não nasceu em Niceia e que também não se esgota nos concílios regionais, provinciais ou gerais, admitiu, contudo, que Niceia assinalou um salto de qualidade em relação passado, em termos de autoridade e representatividade, a que não foi alheia a nova condição do cristianismo no império romano e a própria missão “religiosa” do imperador.
Relativamente à profissão de fé Niceia, a conferência situou no Concílio globalmente na evolução da questão trinitária na época antiga, desde o acolhimento dos dados da Escritura pelos apologistas do século II, cunhando a teologia do Lógos, até à sua evolução no pensamento de Orígenes, bem como às soluções paralelas proporcionadas pelos monarquianismos modalista e dinâmico. De um ponto de vista específico e direto, situou-o no quadro do arianismo emergente em Alexandria e da resposta proporcionada pelo bispo local, assim como no seu alargamento, cruzando-se com os alinhamentos eclesiais coevos. Destacou também as dificuldades terminológicas na expressão da fé, decorrentes da progressiva helenização do cristianismo.
Depois de apresentar o essencial da profissão de fé nicena, nomeadamente no que respeita ao Filho de Deus «gerado, não criado, consubstancial ao Pai», a comunicação sumariou a atribulada evolução da problemática ao longo do século IV, animada e sofrida por Atanásio, entretanto escolhido para a sede alexandrina, até ao I Concílio de Constantinopla de 381, onde a fé nicena foi recebida, depois de um enorme debate e de clarificações terminológicas. Para tanto contribuíram os teólogos neonicenos, que consideraram também o Espírito Santo, a que Niceia não precisou de dar atenção. A receção que qualifica a práxis sinodal também qualifica a fé professada, na medida em que lhe clarifica os termos e lhe alarga a adesão.
O diálogo que se seguiu à exposição ainda proporcionou o alargamento da abordagem, designadamente nalgumas considerações sobre a data da celebração da Páscoa..
A 17 de junho, às 21 horas, concluir-se-á o ciclo com uma sessão coordenada pela Comissão Ecuménica do Porto subordinada ao tema «”Nós cremos”: As Igrejas cristãs no Porto no 17º centenário do I Concílio de Niceia». Continuar-se-á a evocar o aniversário de Niceia, agora na sua relevância para as várias Igrejas cristã e no quadro do movimento ecuménico contemporâneo, também no Porto. A sessão realizar-se-á mais uma vez por videoconferência, podendo as coordenadas de ingresso ser pedidas para ccc@diocese-porto.pt. Serão enviadas sem pedido para os que participaram nas sessões anteriores do ciclo.