Na quinta-feira, 8 de maio, Leão XIV, civilmente Robert Francis Prevost, foi eleito para ocupar a cátedra papal. A web já está cheia de perfis do frade agostiniano, mais tarde prior geral da ordem por dois mandatos, criado Cardeal no consistório de 30 de setembro de 2023 pelo Papa Francisco, que o tinha nomeado Prefeito do Dicastério para os Bispos oito meses antes.
Em vez de recapitular a biografia do Papa, podemos sublinhar três elementos.
O primeiro, talvez o mais marcante: a eleição do primeiro Papa estadunidense é um sinal importante de unidade. O então P. Prevost OSA tem já duas cidadanias, a estadunidense de nascimento e a peruana, porque no Peru durante anos foi missionário e depois bispo. Perante as contraposições baseadas no direito de nascimento, Leão XIV mostra a possibilidade de ser “americano” em sentido pleno, sem identificar o continente americano e a sua grande população com um Estado, mesmo se se trata do Estado mais rico e poderoso do mundo. Será sem dúvida interessante acompanhar os desenvolvimentos de uma interação entre o Papa e o Presidente Trump sobre questões como o acolhimento dos migrantes. Em todo o caso, a eleição de Leão XIV confirma que a Igreja de Roma abraça o mundo inteiro.
O segundo, porventura o mais tocante: com um sorriso manso e um olhar sereno, Leão XIV abriu o seu pontificado com a saudação de Cristo ressuscitado: «A paz esteja com todos vós!». Impressiona não só pela oportunidade litúrgica – estamos no tempo pascal – mas também pelo facto de este apelo à paz ressoar hoje como um forte convite, num mundo que conhece novos focos de guerra para além dos que já estão em curso. No ano jubilar, a primeira esperança é verdadeiramente a paz. A paz de Cristo ressuscitado é «desarmada e desarmante, humilde e perseverante»: salta imediatamente à vista não só o apelo à paz, mas também ao trabalho perseverante e tenaz pela justiça e pelo anúncio do Evangelho, com vista a uma Igreja «que procura sempre a paz, que procura sempre a caridade, que procura sempre estar próxima sobretudo dos que sofrem».
O terceiro, talvez o menos valorizado: Leão XIV escolheu um nome com uma longa história, que vai de São Leão Magno – o Papa que se encontrou com Átila e, segundo a tradição, o dissuadiu de invadir a Itália – a Leão XIII, o Papa autor de importantes encíclicas, como a Rerum novarum, que inaugurou a doutrina social da Igreja, e a Aeterni Patris sobre a importância da filosofia de São Tomás de Aquino para a visão cristã, em particular para a relação entre ciência e fé. Mas – se é permitido ao cronista acrescentar uma pequena nota – há uma outra sugestão bastante forte: o irmão Leão foi secretário e confessor de Francisco de Assis, recordado como um homem dotado da virtude da humildade, da simplicidade e da pureza. Nesta perspetiva, é clara a opção de continuidade com o pontificado do Papa Francisco, na consciência serena de que a Igreja foi enviada, desde Pedro, a anunciar o Evangelho a todos.
E na mansidão do sorriso de Leão XIV, na sua humilde comoção perante o povo que o aclamava na Praça de S. Pedro, entrevemos um sinal vivo daquela paz de Cristo ressuscitado que desejamos que possa acompanhar a Igreja e toda a humanidade no tempo presente: «Deus gosta de nós, Deus ama-vos a todos, e o mal não prevalecerá!»
Roberto Presilla*
Traduzido de VP Plus+ (10/5/2025).
*Professor de Filosofia Contemporânea na Pontificia Università Gregoriana, Roma, e diretor do Forum delle Associazioni Familiari.