Para que uma Igreja sinodal “toda ministerial”

No dia 20 de junho de 2023 foi divulgado Instrumentum laboris que guiará os debates na primeira sessão da XVI Assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos (outubro de 2023). Pela atualidade de que reveste para a nossa Igreja diocesana, transcreve-se a secção B2.2:

O que fazer para que uma Igreja sinodal seja também uma Igreja missionária “toda ministerial”?

Todas as Assembleias continentais se referem aos ministérios na Igreja, muitas vezes em termos muito articulados. O processo sinodal restabelece uma visão positiva dos ministérios, que lê o Ministério ordenado dentro da ministerialidade eclesial mais ampla, sem oposições. Surge também uma certa urgência em discernir os carismas emergentes e as formas adequadas de exercício dos Ministérios batismais (instituídos, extraordinários e de fato) no seio do Povo de Deus, participante da função profética, sacerdotal e real de Cristo. Esta Ficha de trabalho centra-se nestes últimos, enquanto noutras encontra espaço a questão da relação com o Ministério ordenado e as tarefas dos Bispos numa Igreja sinodal. Em particular:

a) Há um claro apelo a superar uma visão que reserva somente aos Ministros ordenados (Bispos, Presbíteros, Diáconos) todas as funções ativas na Igreja, reduzindo a participação dos Batizados a uma colaboração subordinada. Sem diminuir o apreço pelo dom do Sacramento da Ordem, os ministérios são entendidos a partir de uma conceção ministerial de toda a Igreja. Surge uma serena receção do Concílio Vaticano II, com o reconhecimento da dignidade batismal como fundamento da participação de todos na vida da Igreja. A dignidade batismal é prontamente ligada ao Sacerdócio comum como raiz dos Ministérios batismais, e é reafirmada a relação necessária entre o Sacerdócio comum e o Sacerdócio ministerial, que «ordenam-se mutuamente um ao outro, pois um e outro participam, a seu modo, do único sacerdócio de Cristo» (LG 10);

b) Sublinha-se que o lugar mais propício para tornar efetiva a participação de todos no Sacerdócio de Cristo, capaz de valorizar o Ministério ordenado na sua particularidade e, ao mesmo tempo, promover os Ministérios batismais na sua variedade, é a Igreja local, chamada a discernir quais os carismas e ministérios que são úteis para o bem de todos num determinado contexto social, cultural e eclesial. É necessário dar um novo impulso à participação especial dos Leigos na evangelização nos vários âmbitos da vida social, cultural, económica e política, bem como valorizar o contributo dos Consagradas e Consagrados, com os seus diferentes carismas, na vida da Igreja local;

c) a experiência de caminhar juntos na Igreja local permite imaginar novos ministérios ao serviço de uma Igreja sinodal. Muitas vezes, referindo-se ao texto, à visão e à linguagem da LG 10-12, as Assembleias continentais pedem um maior reconhecimento dos Ministérios batismais e a possibilidade de os realizar no registo da subsidiariedade entre os diferentes níveis da Igreja. Nesta linha, muitas destas questões poderiam ser respondidas através de um trabalho sinodal mais aprofundado nas Igrejas locais, onde, com base no princípio da participação diferenciada na tria munera de Cristo, é mais fácil manter clara a complementaridade entre o Sacerdócio comum e o Sacerdócio ministerial, identificando com discernimento os ministérios batismais necessários à comunidade.

d) Uma Igreja “toda ministerial” não é necessariamente uma Igreja “toda de Ministérios instituídos”. Há legitimamente muitos ministérios que brotam da vocação batismal: ministérios espontâneos, alguns ministérios reconhecidos que não são instituídos, e outros que, através da instituição, recebem formação específica, missão e estabilidade. Crescer como Igreja sinodal implica o compromisso de discernir juntos quais os ministérios que devem ser criados ou promovidos à luz dos sinais dos tempos, como resposta ao serviço do mundo.

Pergunta para discernimento

Como poderemos avançar na Igreja para uma corresponsabilidade real e efetiva, em chave missionária, para uma realização mais plena das vocações, carismas e ministérios de todos os Batizados? Como podemos assegurar que uma Igreja mais sinodal seja também uma “Igreja toda ministerial”?

Sugestões para a oração e a reflexão preparatória

1) Como viver a celebração do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia de modo a que sejam ocasiões para testemunhar e promover a participação e a corresponsabilidade de todos como participantes ativos na vida e na missão da Igreja? Que caminhos formativos devem ser postos em ação para fomentar na Igreja uma compreensão da ministerialidade que não se reduza ao ministério ordenado?

2) Como discernir numa Igreja local os Ministérios batismais, estabelecidos ou não, necessários para a missão? Que espaços estão disponíveis para a experimentação a nível local? Que valor atribuir a esses Ministérios? Em que condições podem ser assumidos por toda a Igreja?

3) O que é que podemos aprender com outras Igrejas e Comunidades eclesiais relativamente à ministerialidade e aos ministérios?

4) A corresponsabilidade manifesta-se e realiza-se, antes de mais, na participação de todos na missão: como valorizar o contributo específico dos vários carismas e vocações (desde os ligados às capacidades e competências, incluindo profissionais, dos indivíduos, até aos que inspiram os institutos de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica, os movimentos, as associações, etc.) ao serviço da harmonia do empenho comunitário e da vida eclesial, sobretudo nas Igrejas locais?

5) Como criar espaços e momentos de efetiva participação em corresponsabilidade na missão dos Fiéis que, por razões diversas, estão à margem da vida comunitária, mas que, segundo a lógica do Evangelho, podem dar um contributo insubstituível (idosos e doentes, pessoas com deficiência, pobres, pessoas sem formação cultural, etc.)?

6) Muitas pessoas experimentam o empenhamento na construção de uma sociedade justa e no cuidado da casa comum como resposta a uma vocação autêntica e como opção de vida, mesmo em detrimento de alternativas profissionais mais remuneradoras. Como pensar em formas de reconhecimento deste compromisso, de modo a tornar claro que não se trata de uma opção pessoal, mas de uma ação que torna tangível a preocupação da Igreja?