Para uma revalorização do nosso Centro de Cultura Católica

Nota Informativa do Bispo do Porto

Neste ano de 2024, o Centro de Cultura Católica cumpre 60 anos de um serviço pioneiro e prestimoso à formação do povo de Deus da Diocese do Porto. A criação remonta ao ano de 1964 e, nas intenções do então administrador apostólico, D. Florentino de Andrade e Silva, estava a constituição de «um centro de irradiação de cultura católica, principalmente para o laicado». O Centro beneficiou do ambiente entusiástico do II Concílio do Vaticano, para cuja receção muito contribuiu, servindo a renovação da Igreja diocesana de acordo com o espírito conciliar. Quero agradecer-lhes este brilhante contributo!

1. Uma história rica e fecunda

A partir da fundação, foram desenvolvidas várias iniciativas: o Curso Superior de Cultura Religiosa, denominado Curso de Teologia a partir de 1975, que convergiria, no início dos anos 90, no Curso Básico de Teologia e no Curso Básico de Ciências Religiosas, este como complemento de habilitações para a docência de Educação Moral e Religiosa Católica; os cursos especiais iniciados em 1965/1966, sobre temáticas precisas, lecionados numa noite por semana; os cursos intensivos realizados aos fins de semana, a partir de 1969/1970; os cursos de iniciação pastoral levados a efeito em várias paróquias, durante a Quaresma, entre 1969 e 1973; os serões bíblicos das noites de quinta-feira, entre 1975 e 1981; vários ciclos de conferências e colóquios com a participação de nomes bem conhecidos ligados à renovação teológica coeva, como E. Schillebeeckx, H. Küng, B. Häring, J. Daniélou.

Integraram também as atividades do Centro os Cursos Geral e Complementar de Formação de Catequistas e, a partir de 1971, o Curso de Música Litúrgica, da responsabilidade respetivamente do Secretariado Diocesano da Educação Cristã e do Serviço Diocesano de Música Litúrgica. Já sob a égide do Secretariado Diocesano de Liturgia, a formação para os ministérios litúrgicos alargou-se em 1989 aos Leitores e aos Acólitos, abrindo para a subsequente criação da Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos. Esta, depois de ter funcionado cerca de uma década fora do Centro, por falta de instalações apropriadas, regressaria em 2001, num contexto de reformulação do mesmo.

No encerramento do Jubileu do ano 2000, D. Armindo Lopes Coelho, ao elencar os temas e áreas que mobilizariam a diocese, identificou «a formação, sistemática e permanente, do Laicado diocesano» e anunciou a «criação oficial de uma Escola diocesana para a formação e para os ministérios dos Leigos». A tarefa foi atribuída ao Centro de Cultura Católica, referindo-se a «todos os cursos de cultura católica e formação para o ministério laical», bem como à futura «formação para o Diaconado permanente». Em 2004, alargava-se a formação à Pastoral da Saúde e, em 2008, ajustava-se o plano de estudos do Curso Básico de Teologia, para ser uma das vias de formação teológica para o diaconado permanente.

2. Em contexto de mudança

O pedido de formação por parte das instâncias diocesanas de corresponsabilidade pastoral, a insistência para que também se usassem ferramentas de formação a distância, bem como a minha decisão de avançar com os ministérios instituídos de Acólito, Leitor e Catequista trouxeram novos desafios ao Centro a partir de 2023/2024. Publiquei a nota pastoral «Ministérios instituídos na Igreja do Porto» (29/05/2023), pela qual convidei «a Igreja diocesana a dar um passo determinado na implementação efetiva dos ministérios laicais instituídos de leitores, acólitos e catequistas» e indiquei como conveniente formação «os programas da Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos e do Curso Básico de Teologia do nosso Centro de Cultura Católica», em articulação «com o Secretariado Diocesano da Educação Cristã (para a Instituição de Catequistas) e com o Secretariado Diocesano de Liturgia (para os ministérios do Leitorado e do Acolitado)».

O Centro ajustou assim, em diálogo com os referidos Secretariados, as suas propostas formativas já habituais no âmbito teológico-pastoral e da formação para os vários ministérios: o Curso Básico de Teologia passou a ser lecionado parcialmente em sala virtual; a parte curricular do Curso Complementar de Formação de Catequistas passou a coincidir com o plano de estudos do referido Curso Básico; os planos de estudos dos Cursos de Acólitos e de Leitores foram ajustados para corresponderem melhor aos conteúdos pedidos pelo documento da Conferência Episcopal Portuguesa. O Centro constitui-se, assim, como o grande espaço de formação laical e escola ministerial para todos os âmbitos, tanto no que respeita aos ministérios instituídos, como ao diaconado permanente.

3. O Centro de Cultura Católica na Casa da Torre da Marca

Desde a sua fundação, o Centro de Cultura Católica funcionou na comummente chamada Casa da Torre da Marca, adquirida em 1919 pela Diocese do Porto, depois de ter perdido o Paço Episcopal no contexto da I República. Aí foram instalados a residência do bispo, a Cúria e outros serviços.

Reavido o velho Paço Episcopal, junto à Sé, o edifício da Torre da Marca pôde ser destinado ao recém-criado Centro de Cultura Católica, instituição com que, a partir 1964 e até ao presente, se identificou. Neste percurso histórico houve obras significativas, designadamente, na transição do século, quando foi adaptado para receber, com espaços suficientes e a necessária insonorização, a Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos e permitir a reformulação decidida por D. Armindo. As últimas obras não chegaram, contudo, a contemplar a capela e o telhado.

Passados quase 40 anos das últimas obras da torre e mais de 20 sobre as do palácio, o edifício denota degradação e necessidade de recuperação. Entretanto, houve alguma diminuição da intensidade de utilização da Casa, designadamente com a transição de parte da lecionação do Curso Básico de Teologia e de alguns ciclos de conferências para sala virtual. O número de alunos dos cursos regulares e mais estruturados também decresceu ultimamente, se bem se espere alguma retoma, no contexto da referida formação para os ministérios, como cresceu a procura de iniciativas formativas menos estruturadas.

4. A conveniente mudança de instalações

Atendendo a estas circunstâncias, ouvidos os seus principais dirigentes, o Conselho Presbiteral e outros órgãos de consulta, tudo aconselha a que o Centro de Cultura Católica se transfira para a Casa Diocesana de Vilar, a partir do início do próximo ano letivo e pastoral de 2024/2025. Nestas novas instalações, o Centro pode acolher mais formandos e outras iniciativas formativas. No núcleo pastoral da Casa Diocesana, o Centro passará a dispor, em exclusividade, da parte ocidental do Piso 2 e de todo o Piso 4. Para além dos espaços para secretariado e arquivo, contará com um auditório e oito salas de aulas, em exclusividade, a que se juntam outras duas na medida das suas necessidades formativas, designadamente aos sábados. Pode ainda usufruir de outros espaços da Casa. Na área que o vai albergar, estão a ser realizadas algumas obras ao nível da divisão de salas e da sua insonorização, em razão do funcionamento do Curso de Música Litúrgica.

Com a mudança de instalações pretende-se continuar a garantir ao Centro as melhores condições para realizar a sua missão, enquanto se procura recuperar, racionalizar e potenciar o património da Diocese do Porto.

5. Objetivos pedagógicos e de eficiência

Com esta mudança de instalações pretende-se:

a) dinamizar a Casa Diocesana de Vilar na sua vertente pastoral, ao acolher nela o Centro, instituição “motora” da formação cristã da Igreja do Porto;

b) integrar o Centro no “coração” da atividade pastoral, favorecendo e beneficiando de sinergias mútuas;

c) ganhar em economia de escala e fazer contenção de custos, mediante a inserção do Centro num edifício diocesano já aberto e em atividade, com capacidade de o acolher nas melhores condições;

d) rentabilizar os recursos humanos;

e) desocupar a Casa da Torre da Marca, de modo que a recuperação integral do edifício – torre e palácio – possa ser pensada e realizada em conjunto, seja qual for o destino que venha a ter;

f) enfim, dotar o Centro de instalações modelares específicas de forma a credibilizar a sua imagem e favorecer a qualidade do ensino.

Conclusão

A notória presença fermentadora do mundo por parte de tantos fiéis leigos, a elevada qualidade dos dirigentes eclesiais e a forte dinâmica pastoral da nossa Diocese muito e muito devem ao nosso Centro de Cultura Católica. Louvo a Deus pela visão ampla de quem o criou, o manteve, o desenvolveu e de quantos lá formaram e se formaram. E, porque precisamos da sua ação determinante, queremos proporcionar as melhores condições para que o que o futuro seja digno do seu passado e continue a corresponder às expectativas e necessidades do Povo de Deus que tece a sua vida na área desta Diocese do Porto, numa completa abertura às Igrejas vizinhas.

Porto, 16 de maio de 2024

+ Manuel Linda , Bispo do Porto