Disponibilizamos o texto publicado pelo Secretariado Diocesano da Liturgia no semanário diocesano Voz Portucalense (23 de julho de 2025) 16.
O maior acontecimento da semana cristã é o domingo com a Celebração Eucarística. «Não podemos viver sem o domingo» – foi o grito da consciência cristã que atravessou os séculos. E hoje? Como vivemos?
Desde 2001 que não se conhecem recenseamentos nem sondagens fiáveis sobre a prática dominical entre nós, mas é um dado inquestionável da observação empírica que, particularmente na sequência da pandemia do COVID 19, a assiduidade dos fiéis diminuiu de forma notória. Também não há estudos mensuráveis acerca dos motivos que afastam da missa dominical um número cada vez maior dos que ainda se dizem cristãos. As razões são múltiplas: o preceito dominical perdeu força mobilizadora; a cultura do fim de semana e dos tempos livres (sem missa) sobrepôs-se à prática comunitária do domingo; a diminuição dos efetivos eclesiásticos reflete-se na diminuição da oferta e redução de horários de celebração; a desregulação dos ritmos de trabalho e de repouso (turnos, horários…) privam cada vez maior número de pessoas deste dia comum de descanso festivo; os mecanismos da transmissão da fé cristã e dos seus valores, entre gerações, parece terem colapsado; preguiça e absentismo… Enfim: múltiplas causas de um fenómeno complexo que se traduz em descristianização acelerada.
A todos estes fatores negativos temos, infelizmente, de acrescentar um outro, que afeta de forma significativa a minoria que persiste em manter-se praticante: a falta de qualidade e atrativo de tantas celebrações. Com efeito, não faltam queixas de celebrações arrastadas (o Papa Francisco tinha razão quanto à duração excessiva da homilia), não participativas (em muitos casos, o sacerdote monopoliza os outros ministérios), enfadonhas (com excesso de moralismo e pastoralismo, de palavras e autoritarismo), inestéticas (desleixadas na limpeza e no arranjo, desgraciosas na movimentação e nos gestos dos acólitos e outros ministros, disformes e deturpadas na dicção dos leitores, nos cânticos e na música sem qualidade e espiritualidade, etc.), turbulentas (nervosismo e desassossego dos ministros, desordem e desarmonia nos objetos, nas palavras e nos ritos, ausência de silêncio).
Bem sabemos que a Liturgia é, acima de tudo, opus Dei. Mas «o Verbo fez-se carne» e o sujeito integral das ações litúrgicas é o Corpo de Cristo, Cabeça e membros. Não basta, pois, pressupor o opus operatum (a ação de Cristo, pelo Espírito): é preciso trabalhar o opus operantis (a ação da Igreja, assembleia e ministros), para que à consagração se siga a comunhão! Por isso recomenda o Concílio aos pastores da Igreja que velem «para que, na ação litúrgica, não só se observem as leis da válida e lícita celebração, mas também para que os fiéis participem nela consciente, ativa e frutuosamente» (SC 11).
Consequentemente, a Igreja não pode deixar de se preocupar com todos os pormenores necessários ao encontro do Senhor Ressuscitado com os seus discípulos, em cada domingo (IGMR 1). Por isso, a celebração litúrgica não pode ser improvisada, mas deve ser cuidadosamente preparada, em todos os seus elementos e com todos os seus intervenientes.
Tal preparação deve ser individual e em grupo. Inclui, por isso, preparação e exercitação pessoal para que cada ministro possa desempenhar bem o seu serviço (presidir, ler, cantar, etc.). Mas é necessária, também, uma preparação e exercitação em grupo (ensaio do coro, com o diretor, organista, salmista; ensaio dos acólitos, do grupo de leitores, do grupo de acolhimentos, etc.) e coordenação da equipa de liturgia, aberta a outros fiéis, presidida pelo pároco ou pelo presidente da celebração.
Os diversos ministros deverão ser escolhidos criteriosamente e formados ampla e seriamente. A Igreja tem tido, ao longo dos séculos, um extremo cuidado com a formação dos sacerdotes. Mas, agora, tem de alargar esse zelo aos leigos que chama a desempenhar ministérios e serviços na liturgia.
O serviço de acólito não pode ser substituído por um robot devidamente programado. Há toda uma arte e espiritualidade a exercitar, necessária à expressão simbólica da celebração litúrgica em espírito e verdade. O serviço de leitor não pode ser dispensado por boas gravações. Ler bem e ler em público tem as suas exigências e as técnicas, requer conhecimento e exercício, aptidões e qualidades, para que a Palavra de Deus possa chegar ao ouvido de todos e penetrar os corações. Cantar (“quem canta bem, reza duas vezes”), tocar um instrumento, dirigir um coro ou uma assembleia supõe qualidades específicas mas requer sempre formação aturada e exigente, que não se compadece com falsas habilidades e amadorismos.
Pensando em tudo isto, a nossa Igreja diocesana pôs em andamento a Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos, hoje integrada no Centro de Cultura Católica, com os Cursos de Acólitos, Leitores, e Música Litúrgica (Salmistas, Curso Preparatório e Geral). As inscrições fazem-se até 31 de julho e de 1 a 26 de setembro na secretaria do CCC (Casa Diocesana de Vilar – Rua Arcediago Van-Zeller 50 – 4050-621 PORTO – Tlm. 96 000 4032 – ccc@diocese-porto.pt), de segunda a sexta-feira das 15 às 19 horas e aos sábados das 9 às 13 horas. Durante o mês de agosto a secretaria encontra-se encerrada. Os candidatos ao Curso de Música Litúrgica fazem o teste de admissão a 27 de setembro. As aulas começam a 2 de outubro.
Secretariado Diocesano da Liturgia